O tema é completamente desconhecido pra você? Que bom. Pra mim também era. A sigla é em inglês e a primeira delas é da década de 80.
Meu primeiro emprego foi em 1990 aos 15 anos e meu primeiro cargo gerencial foi 2000. Importante dizer que eu nunca tinha ouvido nada a respeito do mundo VUCA e muito menos sobre mundo BANI.
Do exército norte-americano para o mundo empresarial
Antes de mais nada, cabe explicar que o termo VUCA, até então era qualquer outra coisa menos o que de fato significava. Afinal, ele é uma sigla que significa Volatile (Volátil), Uncertainty (Incerteza), Complexity (Complexidade) e Ambiguous (Ambiguidade). Você pode conhecer a origem desse termo aqui, caso queira ler mais a respeito. O exército americano, mais especificamente o US Army War College o desenvolveu para poder desenhar cenários e identificar tendências de um mundo novo que estava sendo desenhado. Posteriormente, o mundo empresarial o adotou para construir seus padrões de planejamento e execução.
Entendendo o Mundo VUCA
Volatile (Volátil)
O mercado ser volátil e dinâmico não parece algo novo para voce, correto? Ninguém faz negócios como fazia anos atrás. Do mesmo modo, nenhuma empresa faz planejamentos anuais sem planejar uma série de revisões. Se você está no mercado e não percebe essa volatilidade provavelmente você está tendo muitas dificuldades para se manter equilibrado.
Uncertainty (Incerteza)
É uma realidade típica da época. Assim, aqui cabe voltar o filme entender o que eram os anos 80. Guerra fria, tensionamentos, novas tecnologias, tudo poderia acontecer. Poucos momentos foram tão incertos. Igualmente, mesmo com o fim da guerra fria as tensões no mundo continuam o tempo inteiro e o cenário segue sendo imprevisível.
Complexity (Complexidade)
É quase autoexplicativo. Afinal, em um cenário de Volatilidade e Incertezas como não considerá-lo complexo? O mundo estava sendo reinventado e muito daquilo que fazia sentido deixou de fazê-lo e vice-versa. Ademais, por acaso isso mudou? Claro que não. Primeiramente, poderíamos dizer que a complexidade do mercado empresarial atual atingiu um nível muito alto e se sofisticou. Assim, não temos mais como lidar como generalistas. Em suma, todos os problemas a serem enfrentados necessitam de abordagens sob medida.
Ambiguous (Ambiguidade)
Resumindo, é apenas reflexo de tudo o que foi explicado até agora. A realidade do mundo empresarial mudou muito nos últimos 10 anos e ambiguidade começa a ser normal sobretudo em termos de tomada de decisão. O certo e errado passam a ser questionados pois você tem diferentes caminhos possíveis para seguir. A grande questão é que a dinâmica atual não permite verdades absolutas. Coisas como “em time que estão ganhando não se mexe” não são mais aceitáveis. Do mesmo modo, não enxergar com clareza o estado das coisas ou até mesmo entender de forma errada as relações de causa e efeitos pode gerar grandes problemas.
Do Mundo VUCA ao Mundo BANI
O termo VUCA vem sendo usado em maior escala desde 2010 e os nossos tempos dinâmicos já tem um substituto para ele. Especialistas dizem que chegou a hora do mundo BANI. Pois é, você que talvez nem tenha ainda compreendido um, já está sendo apresentado ao outro. E o cenário da pandemia do COVID-19 fez com que essas siglas ganhassem muito mais sentido.
Chega a hora de dar o próximo passo em direção ao entendimento do que vai ser o mundo daqui pra frente. A forma de se fazer negócios em um cenário de pandemia e depois dele já está mudando. Sim, sabemos que a pandemia parece não querer terminar, mas uma hora ou outra nós conseguiremos domá-la. Curiosamente, Jamais Cascio, ainda em 2018, portanto antes da atual pandemia, sugeriu que não estávamos vivendo no Mundo VUCA mas sim no Mundo BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible).
Em português, um mundo FANI (Frágil, Ansioso, Não-Linear e Incompreensível). E esse 2020, com sua pandemia a tira colo, caiu como uma luva. Depois dele fica fácil entendermos porque sentir-se frágil e ansioso frente a um mundo que aponta cada vez mais para um futuro não-linear e incompreensível não é algo tão esquisito, não é mesmo?
Frágil
A fragilidade não é uma condição para deixar de existir. Mas sim a falta de capacidade de suportar algo, de resistir à falha. Assim, pode parecer filosófico, e talvez até seja, mas alguém muito rico que dependa de uma única fonte de renda, mesmo sendo muito rico, é frágil. Afinal, uma simples mudança no sistema de regulação ou uma pandemia como a COVID-19 pode destruir um negócio milionário.
Afinal, você conhece o Airbnb, não é mesmo? Segundo seu fundador, Brian Chesky, 12 anos de empresa quase foram destruídos por 6 semanas de pandemia. Apesar de milionário, era ou não era frágil?
Ansioso
A abordagem de ansiedade é quase lugar comum assim como a de depressão. Provavelmente, o último cenário semelhante aconteceu na segunda guerra mundial há mais de 80 anos. Utilizando como exemplo o mesmo Airbnb, seu fundador sentenciou sobre o mercado de turismo “Ninguém sabe como será, mas acho que veremos uma redistribuição dos lugares para onde se viaja.” Apesar disso, o Airbnb conseguiu se recuperar reestruturando totalmente a empresa e reinventando seu modo de fazer negócio. Poucos conseguem fazer isso, bom que se diga.

Ademais, o papel da mídia nesse cenário é determinante. Ademais,existe algo que estimule tanto a ansiedade e a depressão quanto os nossos noticiários? A ansiedade por poder tomar decisões erradas não pode ser mais forte do que a necessidade em tomar decisões. E a não decisão pode ser ainda mais perigosa. Domar essa ansiedade e não se deixar controlar por ela talvez seja a característica mais importante para um profissional atualmente.
Não-Linear
A Teoria do Caos e seu efeito borboleta, definido assim pelo seu criador Edward Lorenz, “como se o bater das asas de uma borboleta no Brasil causasse, tempos depois, um tornado no Texas” explica muito sobre essa não-linearidade do mundo. O efeito que pequenas decisões pode gerar na sua vida ou nos seus negócios está cada dia mais visível e latente. Bem como a quantidade de interconexões que possui faz com que tudo possa interferir positiva ou negativamente nos seus objetivos. O mundo inteiramente digital faz com que, por exemplo, um único hacker possa causar prejuízos que afetem milhares, milhões ou até mesmo bilhões de pessoas. E isso sem nem mesmo ter que sair de casa., não é mesmo?
O mundo gasta trilhões de dólares para identificar potenciais ações terroristas. No entanto, muitas delas custam praticamente nada para quem as deseja fazer, mas podem gerar desastres mundiais. A pandemia da COVID-19 teve seu início na China e se propagou de uma forma jamais vista. Até esse momento mais de 1,7 milhões de pessoas morreram. Milhares de empresas foram dizimadas num efeito dominó ao redor do mundo. Quer melhor exemplo de não linearidade do que esse?
Incompreensível
Quando falávamos do mundo VUCA, analisávamos o C de complexidade. Agora, podemos facilmente entender o porque de aceitar que muitas coisas complexas ainda são incompreensíveis para a maioria das pessoas. Esse é o chamado Mundo BANI. Você pode responder como um algoritmo pode compactar uma foto e reduzir seu tamanho em 80%? Se sabe, está de parabéns. Seguramente a grande maioria sequer faz ideia. Mas essa mesma maioria pode saber executar a ferramenta que faz esse serviço. Ou seja, alguns de nós usa o computador e seus softwares de forma magnífica mas não faz a mínima ideia do que o faz funcionar daquela forma. E você entende, por exemplo, o conceito e estrutura por trás da bitcoin e de outas criptomoedas?
O seu papel no mundo BANI

O mundo digital e suas tecnologias emergentes avança de forma definitiva em direção à Inteligência Artificial. Nem mesmo dominamos completamente a capacidade do nosso cérebro e já partirmos para implementar outras inteligências. E o que resta à maioria de nós? Seu primeiro impulso foi o de responder que temos que buscar compreender tudo? Sinto que que essa opção poderá causar muita frustração. Não há como fazê-lo.
O que de fato nos caberá é adaptarmos-nos e continuar acreditando que Darwin estava completamente certo. Assim, não se trata do mais forte e sim do que se adapta melhor e mais rápido. A transição do Mundo VUCA para o Mundo BANI não exige grandes mudanças em termos de aprendizado. São muito mais ajustes, equilíbrio e possivelmente mudança de prioridades.
A primeira coisa a realmente aprendermos é que as demandas mudam o tempo todo e que nos adaptarmos é a única forma de mantermos a cabeça fora da água. Em um mundo frágil, ansioso, não linear e incompreensível, habilidades e inteligência continuam sendo determinantes mas o desenvolvimento das chamadas soft skills são um grande diferencial. Dentre as diversas que existem, acredito que algumas são preponderantes:
- Comunicação Eficaz
- Empatia
- Escrita Eficiente
- Colaboração
- Flexibilidade e Resiliência
- Pensamento Criativo
Conclusão
Primeiramente, a lista acima possui uma lógica para existir. Afinal, para contornarmos a fragilidade precisamos ser resilientes e capazes. Para dominarmos a ansiedade precisamos de empatia e de capacidade de compartilharmos nossos medos e angústias. Ou seja, entender cenários e se adaptar rapidamente fará com com que você possa navegar melhor num mundo não linear. Para lidar com o incompreensível precisamos desenvolver muito a nossa atenção e intuição.
O mundo VUCA e o mundo BANI não são ficção. Ele são apenas “frameworks” que te ajudam a entender o cenário que você tem para atuar. A busca deve ser pelo autoconhecimento e por entender o seu papel nessa estrutura. Assim, você poderá saber precisamente o que fazer para atingir os seus objetivos tendo clareza do porque não será fácil. Mas essa última parte, a gente já sabia né?